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O vídeo de Neymar perante o juiz: “Eu não sei muito. Meu pai cuida da minha vida”
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“Quero que me deixem em paz”

O vídeo de Neymar perante o juiz: “Eu não sei muito. Meu pai cuida da minha vida”

O Ministério Público da Espanha solicita que o jogador seja condenado a dois anos de prisão. O DIS aumenta seu pedido em até cinco anos de prisão

Foto: O vídeo de Neymar perante o juiz.
O vídeo de Neymar perante o juiz.

Neymar está sendo acusado de um crime de corrupção privada por ter acertado em 2011 sua transferência para o Barcelona (ESP) por 40 milhões de euros, quando quando ainda era jogador do Santos no Brasil e não poderia negociar sua transferência pelas regras da FIFA. A investigação aberta no tribunal espanhol de alta instância Audiência Nacional, em junho de 2015, através de uma queixa do fundo de investidores DIS, que tinha na época 40% dos seus direitos federativos, confirmou que o jogador assinou ao menos dois acordos supostamente ilegais com o Barça. Entretanto, Neymar diz que não sabia de nada e que assinou apenas por recomendação de seu pai, Neymar da Silva Santos, também processado.

É isto o que consta nas imagens do seu depoimento perante o juiz, segundo o jornal espanhol El Confidencial, que teve acesso ao material. O episódio aconteceu em fevereiro do ano passado, contudo o vídeo e o conteúdo completo da seu depoimento não haviam sido divulgados até agora. Em novembro, depois de avaliar esta prova, a Audiência Nacional decidiu processá-lo. O Ministério Público da Espanha solicita que o jogador seja condenado a dois anos de prisão. O DIS aumenta seu pedido em até cinco anos de prisão.

Neymar declarou perante o juiz que sempre se limitou a assinar os documentos que seu pai lhe apresentou. “Compreendo sim, mas não sei muito, sobretudo, sei mais pelo que falam na imprensa, meu pai é quem administra a minha carreira desde que eu nasci. É uma pessoa em quem confio de olhos fechados e que cuida da minha vida e também da minha carreira”, respondeu perante o juiz. Também afirmou que nem lembrava do primeiro contrato que assinou com o Santos. “Para falar toda a verdade eu... não lembro muito bem, sei que profissionalmente aos 16 anos assinei o primeiro contrato, e desde que coloquei minha assinatura no papel essa vez, foi meu pai quem cuidou de tudo, é uma pessoa em que eu confio, ele me pedia que assinasse os papeis e isso é o que eu fazia sem nenhum problema”.

O jogador resolveu emular a estratégia de defesa da filha do Rei da Espanha, a ‘infanta’ Cristina, processada no caso Nóos. Ela declarou que não sabia por que assinou os documentos que a incriminam nesse escândalo e que sempre confiou “por amor” no que fazia seu marido, Iñaki Urdangarín, suposto mentor da trama. Neymar declarou que, no caso, ou não lembrava, ou havia atuado por recomendação do seu pai.

O juiz questionou o jogador sobre o acordo realizado em 2009, para vender 40% dos seus direitos federativos ao fundo DIS por 5 milhões de reais (1,4 milhões de euros segundo o câmbio naquele momento), porém o craque brasileiro também não lembrava desse acordo e tampouco do dinheiro que posteriormente chegou em sua conta. “Para falar a verdade, não lembro porque nunca me interessei pelos contratos e nem pelos detalhes da minha carreira, porque não gosto e por essa razão tenho uma pessoa que administra tudo, que é meu pai. Ele sempre cuida de tudo da melhor forma possível e eu faço o que ele me diz”, repetiu. “É uma pessoa em que confio, uma pessoa que tem toda a liberdade para fazer o que quiser com a minha vida”. Sobre a quantidade que o DIS pagou, Neymar limitou-se a responder que nesse momento “era muito novo” e não se “interessava pelos assuntos de dinheiro”. O acordo impedia que o jogador assinasse com outro clube sem comunicar diretamente ao DIS, porém o fundo de investimentos só descobriu anos depois que o Barcelona tinha negociado sua contratação em 2011 por 40 milhões de euros.

O juiz espanhol José de la Mata perguntou também se tinha recebido ofertas de outros clubes. A responsabilização do jogador por um delito de corrupção privada ressalta que, com esses contratos opacos, incidiu em uma alteração no “mercado das contratações de jogadores de futebol”. O Real Madrid fez uma oferta ao Santos em 2013 pelo jogador no valor de 36 milhões de euros. Contudo, naquele momento já estava em vigor o acordo secreto de Neymar com o Barcelona por um valor superior, mesmo que oficialmente a transferência para o clube catalão tenha sido fechada em 2014 só por 17 milhões de euros, a metade do que tinha oferecido o Real Madrid um ano antes.

O atual atacante do Barça reconheceu que recebeu ofertas de outros clubes durante o período em que o acordo esteve em vigor, mas apontou outra vez para seu pai. “Realmente não sei a verdade porque meu pai filtrava toda a informação, tudo o que podia me afetar, e eu acabei sabendo das coisas pela Internet. É algo que acontece desde os 12 ou os 13 anos, dizem que vou para um clube ou outro, se fala em muitos clubes e afinal não era verdade. É algo com o que tenho vivido durante muito tempo e com que já estou acostumado, mas eu sempre escuto meu pai e confio no que ele me diz”.

De acordo com Neymar, apesar de que já tinha assinado com o Barça em 2011, ele não havia decidido sua transferência para outro clube até 2013. “Depois que o Santos decidiu me vender, sim. Ele me contou isso depois que o Santos informou que queriam me vender. Meu pai chegou e me disse isso: “querem te vender” e eu disse para que clube queria ir”. O jogador declarou que, naquele momento, não teve dúvidas sobre o seu destino, e negou que a sua escolha estivesse motivada por questões econômicas ou pelos contratos que já tinha assinado. “Não foi o dinheiro que me tentou para ir jogar em outro clube, senão o desejo, o sonho que tinha e minha vontade desde que sou uma criança de jogar no Barcelona, e isso foi o que disse ao meu pai, que esse era o clube onde eu queria jogar”.

Apesar da insistência do juiz, Neymar sustentou a tese de que nunca chegou a ter conhecimento de que tinha assinado com o Barcelona em 2011, fora do prazo estabelecido pela FIFA. As regras de transferência estabelecem que um jogador só pode negociar a sua transferência seis meses antes do término de seu contrato e, no caso do jogador brasileiro, esse prazo só começava em janeiro de 2014. “Não sei dessas coisas que estavam no contrato, nem das cláusulas que tinha o contrato que assinei. Porque era algo que meu pai me pediu para assinar, o contrato, e eu assinei, sim, assinei porque meu pai me pede que eu faça algo e eu faço. Eu posso lhe aborrecer com meu discurso, porque vou lhe repetir a mesma coisa uma e outra vez”.

Não é a única dúvida que implica este pacto secreto. No dia 6 de dezembro de 2011, Neymar assinou um segundo contrato com o Barça para que o clube adiantasse 10 dos 40 milhões de euros da sua transferência. Nove dias depois que o dinheiro entrou na sua conta, Neymar jogou com o Santos contra o Barcelona na final do Mundial de Clubes da FIFA. O atacante brasileiro jogou durante 90 minutos, porém o seu time perdeu (4x0).

Na sua última alegação, Neymar só pediu uma coisa: “Quero que me deixem em paz”. Porém a sua petição não teve o sucesso que esperava. A seção quarta da Sala Penal da Audiência Nacional considerou em setembro do ano passado que os fatos denunciados pelo DIS constituem crime e que o jogador poderia ter cometido um delito de corrupção privada (artigos 286 bis e 288 do Código Penal espanhol). Depois desse parecer, o juiz De la Mata concordou em novembro a dar prosseguimento no processo de Neymar, junto com seus pais, o presidente do Barça, Josep María Bartomeu, o ex presidente do mesmo clube Sandro Rosell e o ex presidente do Santos Odílio Rodrigues Filho, além de todas as pessoas jurídicas que participaram da operação.

A data do juízo será estabelecida nas próximas semanas. É provável que o processo será conduzido entre setembro e março. O Ministério Público pede dois anos de prisão para Neymar e uma multa de 10 milhões de euros. Pela sua parte, a acusação do DIS pede que o jogador seja condenado a cinco anos de prisão e exige uma multa ao Barcelona de 195 milhões de euros.

Neymar está sendo acusado de um crime de corrupção privada por ter acertado em 2011 sua transferência para o Barcelona (ESP) por 40 milhões de euros, quando quando ainda era jogador do Santos no Brasil e não poderia negociar sua transferência pelas regras da FIFA. A investigação aberta no tribunal espanhol de alta instância Audiência Nacional, em junho de 2015, através de uma queixa do fundo de investidores DIS, que tinha na época 40% dos seus direitos federativos, confirmou que o jogador assinou ao menos dois acordos supostamente ilegais com o Barça. Entretanto, Neymar diz que não sabia de nada e que assinou apenas por recomendação de seu pai, Neymar da Silva Santos, também processado.

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